segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Camilo de Almeida Pessanha (Coimbra, 7 de Setembro de 1867 — Macau, 1 de Março de 1926) foi um poeta português. É considerado o expoente máximo do simbolismo em língua portuguesa, além de antecipador do princípio modernista da fragmentação



Quem Rasgou os Meus Lençóis de Linho

Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho, 
Onde esperei morrer, meus tão castos lençóis? 
Do meu jardim exíguo os altos girassóis 
Quem foi que os arrancou e lançou no caminho? 

Quem quebrou (que furor cruel e simiesco!) 
A mesa de eu cear, d tábua tosca de pinho? 
E me espalhou a lenha? E me entornou o vinho? 
- Da minha vinha o vinho acidulado e fresco... 

Ó minha pobre mãe!... Não te ergas mais da cova. 
Olha a noite, olha o vento. Em ruína a casa nova... 
Dos meus ossos o lume a extinguir-se breve. 

Não venhas mais ao lar. Não vagabundes mais, 
Alma da minha mãe... Não andes mais à neve, 
De noite a mendigar às portas dos casais. 

Camilo Pessanha, in 'Clepsidra' 

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